domingo, 1 de maio de 2011

Uma homenagem à Mãe

"Mãe és gira!"; "...a mãe gosta de mim..."; "a mãe é amiga, dá-nos beijinhos e abraços, penteia o cabelo...";"a mãe é carinhosa, dá beijinhos...."

Há poucos dias pedi a meninos e meninas das várias salas que me dissessem como era a sua mãe. Como podem imaginar as respostas foram variadas, diferentes mas todas com a mesma ideia: a figura da mãe é muito importante para o mundo de cada criança. Por trás de cada frase encontra-se o amor nutrido pela mãe, o cuidado que a mãe tem, o carinho que a mãe dá, a unicidade de cada uma.
A Mãe é a primeira figura de relação da criança, porque desde a gestação o bebé cresce dentro do seu corpo, ouve o seu coração, escuta a sua voz... e por isso quando nasce, acalma-se melhor se ouve a voz da mãe.
Nos primeiros anos de vida, a figura materna é aquela que a criança melhor reconhece, aquela com quem a criança tem uma relação privilegiada, com quem quer passar mais tempo. No Mundo da criança não há espaço para mais ninguém a não ser a Mãe. O pai tem um papel importante de ajudar a criança a perceber que a mãe não pode ser toda para a criança, e assim, a criança aprende que a mãe não é apenas mãe mas também mulher, esposa...
Cada mãe é única, diferente e tem uma relação especial com cada um dos seus filhos. A mãe sorri, interage e brinca com a criança, sente os seus medos e ajuda-a a lidar com o mundo (nomeando, pensando com a criança)... mas também é uma mãe que espera, dá espaço para a criança errar, está presente mesmo não interagindo com a criança, deixa-a explorar (Se repararem a criança sempre que faz uma descoberta nova faz questão de partilhar com a mãe), e tem sempre uma palavra de encorajamento e de segurança quando a criança mais precisa.  É uma mãe que deixa a criança crescer, ser autónoma, mas mantém-se sempre como a Mãe que está presente quando é necessário.
Quando a criança se volta para outras figuras (pai) a mãe é vista como um modelo do feminino, modelo que as meninas se vão identificar depois. São muitas as vezes que se ouve uma criança dizer "Quando for grande quero ser como a minha mãe.!". A primeira relação que a criança estabelece é com a mãe e esta relação vai ser o modelo para depois estabelecer outras relações (com o pai, os professores, os pares...).
Neste dia da Mãe deixo a nossa homenagem a todas as mães, com a frase de uma das nossas crianças...

 "A Mãe é inteligente, especial porque é uma mãe que não se compara a ninguém, é a única no mundo..."

Eunice Cruz - Psicóloga

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Mês de Abril... Mês da Liberdade

Neste mês comemora-se um marco importante na história portuguesa, o dia da liberdade, da queda do regime, do poder de ser livre em pensamento e opinião...e precisamente por isso dedicamos o mês de Abril ao valor da Liberdade!
A liberdade é um direito, é um valor, mas o valor mais delicado... todos nós queremos ser livres, fazer o que nos apetece sem restrições, no entanto " A nossa liberdade acaba onde começa a do outro".
Um ser livre é um ser crítico, que tem opção de escolha e devemos educar as nossas crianças com essa consciência, de que elas próprias são um ser independente, com ideias, opinões... claro que inicialmente a liberdade da criança é uma liberdade controlada, e é-o porque queremos garantir a sua segurança e bem-estar. Aos poucos os pais vão dando opção de escolha naquilo que a criança pode efectivamente decidir (o que quer vestir, o que prefere comer, se quer lavar os dentes antes ou depois de ir para a cama). Ao darmos poder de decisão à criança temos que a ajudar a perceber o seu ponto de vista e o porquê da sua vontade não poder ser satisfeita naquele momento, no entanto ela foi livre de poder escolher.
Os pais devem ajudar a criança a pensar, a ser crítica, e quando a criança conversa com os pais e discorda, é bom, é sinal de que tem "espírito crítico", que não se acomoda. Os pais vão ajudá-la a aprender, dando valor à sua opinião, mostrando opiniões diferentes, e chegando a um acordo (nas crianças mais crescidas a família deve envolver a criança em algumas decisões). A liberdade tem os seus "quês", porque educar uma criança que tem um pensamento crítico, que é atenta ao mundo que a rodeia é muito mais difícil que educar uma criança que não tem opinião, é submissa.
Ser livre é também errar e aceitar o erro. Os pais ajudam a criança quando erra, transmitindo-lhe serenidade, porque errar é humano, o importante é aprender com o erro... não há seres humanos perfeitos, e por isso não há filhos perfeitos.
Nas crianças mais pequenas o trabalho é feito sobretudo no ajudar a serem críticas, a estarem atentas ao mundo que as rodeia, a deixar resolver os problemas, a serem criativas. Ouvir a criança, o que tem a dizer, pedir a sua opinião (em assuntos que efectivamente possa opinar), ajudá-la a ver outras opções. Por exemplo nos jogos e puzzles, podemos ajudar a criança, antes de tomar a decisão de que peça é ou qual vai jogar, a ver as opções e depois deixá-la escolher, se errar os pais lá estão para a apoiar e dizer que errar é natural, a perceber o porquê e errou e o que pode fazer de diferente para a frente.
Quando a criança começa a ser mais crescida, a família pode começar a dialogar abertamente, sem receios, onde a criança possa dizer o que pensa, sabendo que não vai ser criticada. Incentivar que a criança tome decisões (adequadas à idade), com responsabilidade, com os pais a ajudar a pesar os prós e contras. Ao incentivar à decisão o adequado é dizer à criança "eu ajudo-te a decidir", em vez do "tu é que decides".
Para terminar, deixo-vos uma sugestão: nesta época, em que vamos ter eleições antecipadas, os pais podem aproveitar para incentivar os filhos a irem com eles às urnas de voto, e aproveitar para explicar o porquê do votar, as vantagens, que quando não há liberdade não se pode emitir opinião.
Para o próximo mês vamos reflectir sobre o valor da Autonomia!
Eunice Cruz - Psicóloga


terça-feira, 22 de março de 2011

Educar para os Valores: a Justiça, Verdade e Honestidade

Este ano letivo dedicamos o Projeto Educativo ao tema "Educar para os Valores e Cidadania".Todos os meses são desenvolvidos e trabalhados com as nossas crianças valores fundamentais para a sua convivência e adaptação pessoal e social. Apesar de focarmos valores específicos cada mês, todos eles vão sendo abordados no dia-a-dia porque é impossível separar uns valores do outros.
A transmissão de valores é um dos pilares da educação  porque são os valores que nos permitem viver em sociedade. Sem valores não conseguimos conviver com o outro, porque o outro deixa de existir, no fundo "A nossa liberdade acaba quando começa a liberdade do outro". Também temos presente que os pais são os modelos da criança,  que a criança imita os pais, a transmissão de valores "dá-se" pelos atos que os pais têm e que as crianças observam. Por trás das nossas ações e dos nossos pensamentos encontram-se os valores pelos quais nos guiamos.
Mês a mês vamos  reflectir sobre os valores que abordamos, e dar sugestões para trabalhar estes valores em casa. Este mês os valores que estamos a trabalhar são a Justiça, a Verdade e a Honestidade. Hoje em dia cada vez mais somos confrontados com notícias que mostram a ausência destes valores, basta abrir um jornal (fraudes, processos judiciais que acabam arquivados...).
A verdade e honestidade são valores essenciais na convivência com o outro. A criança deve perceber que não se deve mentir e que os proveitos que tem da mentira não lhe são "úteis". No entanto, é também importante que a criança perceba que dizer a verdade é limitado às pessoas a quem o diz (não deve conversar com estranhos, muito menos contar  aspetos da sua vida pessoal).Torna-se assim importante ajudar a criança a conhecer quem são as pessoas de confiança.
A honestidade permite a adaptação, dado que o outro confia em nós porque sabe que o que lhe estamos a dizer é de facto o que pensamos. Quando não somos honestos dá-se uma quebra na confiança, e numa próxima vez instala-se a dúvida acerca da veracidade do que estamos a dizer. No entanto, a honestidade pede equilíbrio (não podemos dizer na realidade todos os pensamentos que nos vêm à cabeça, sob pena de sermos demasiado intrusivos com o outro ou mesmo danificar as relações que temos com o outro). Ser honesto implica integridade e cautela (pensar no outro).
Sem Justiça é muito difícil aceder aos outros valores. Ser justo implica prescindir (muitas vezes) dos nossos desejos em prol de um bem  justo e maior. Ser justo não implica ser igual, mas ver o outro como diferente e decidir perante a diferença.
Como explicamos à criança o que é a justiça, o que é ser justo? Ser justo implica deixar de ver apenas o seu interesse, olhar para o interesse do outro e tomar uma decisão exata. Os momentos de brincar com os amigos são bons para ajudar a criança a perceber o ponto de vista do outro (muito pequenas têm dificuldade em se descentrar de si próprias), no entanto, se os pais actuam como mediadores no conflito a criança vai-se habituando a uma linguagem onde o outro também está presente.
O mundo muitas vezes não é justo, e a criança vai-se defrontar vezes sem conta com situações de injustiça. Importa ajudar a criança a tolerar essa frustração, e também a perceber que quando  ela é injusta pedir desculpa não é suficiente, tem que se reparar (sempre que puder) a injustiça.
Em casa os momentos do dia-a-dia são ideais para ajudar a criança a perceber o que implica dizer a verdade, ser honesta e justa.
Os pais podem selecionar notícias (de revistas, jornais) - hoje em dia em qualquer jornal diário existem notícias que remetem para a mentira, a justiça... - e conversar com a criança sobre o assunto: perguntar-lhe o que ela pensa, dar-lhe exemplos da sua vida e perguntar-lhe se gostava que lhe fizessem isso, como se sentiria, como é que o outro iria ficar. Adaptar a notícia à fase de desenvolvimento da criança. Não é necessário ler tal e qual como está escrito, pode-se adaptar e mesmo moldar a noticia. Os desenhos animados também são uma excelente forma de mostrar e conversar com a criança sobre estes valores.
As relações (com a família, com os amigos) são também uma boa ferramenta para ajudar a criança. Por exemplo, num conflito entre amigos os pais podem servir de mediadores do conflito e ajudar a criança a perceber-se a si própria (ouvir a sua versão), a ouvir o outro (ouvir a versão do outro) e a pensar sobre o que é mais justo.
As histórias são também de grande utilidade para ajudar a criança a reflectir sobre os valores. Os pais mais criativos podem inventar as suas próprias histórias, de acordo com o que querem reflectir com a criança. Existem vários contos onde estes valores estão implícitos, deixo-vos como sugestões "O Rei vai Nú", "O Pedro e o Lobo", "O lenhador e o Deus Hermes," e  "O Avarento".
 Abordar os valores é um trabalho de cooperação entre casa e a escola. Estas reflexões estão abertas a todos os pais e por isso comentários, opiniões e sugestões sobre como abordam estas questões com os vossos filhos são muito bem-vindas. Para o próximo mês vamo-nos debruçar sobre a Liberdade.

Eunice Cruz - Psicóloga


sábado, 19 de março de 2011

E porque hoje é Dia do Pai.... A importância do pai no desenvolvimento da criança

Na nossa escola o Dia do Pai comemorou-se mais cedo (18 de Março),dado este dia coincidir com o sábado. Nos corredores, a presença dos pais e a alegria dos filhos era contagiante, e a nossa escola ganhou ainda mais vida... na cara das crianças era visível o entusiasmo e a ansiedade de chegar a hora em que os pais viessem para  mostrar todos os trabalhos e presentes que fizeram com tanto carinho. 
Para comemorar o Dia do Pai, gostava de vos deixar uma pequena reflexão acerca do papel desta figura no desenvolvimento da criança.
Quando um casal decide ter um bebé, este é pensado, desejado e imaginado pelo pai e pela mãe. Mais, para se "fazer" um bebé é preciso pai e mãe, mesmo na biologia o pai tem um papel importante.
Na gravidez o pai acompanha todo o desenvolvimento do bebé, sonha com a mãe o futuro, vai com ela às consultas, fala com o bebé,  mexe na barriga, ajuda em casa. Quando a mulher está grávida a sua imagem corporal torna-se diferente, a mãe tem um humor mais variável, e quem é que lhe diz que continua bonita, que grávida ainda é mais bonita do que antes? O PAI. 
Nos primeiros meses a mãe está mais disponível para o bebé do que para o pai, e é normal o pai sentir-se um pouco excluído desta relação a dois. No entanto é o pai que vai ajudar a criança a perceber que o mundo não é apenas ela e a mãe. Que existe outra figura com quem a criança estabelece uma relação afectiva e a quem se vincula (sim, porque a criança estabelece uma relação de afecto muito forte com o pai e com a mãe), que existem regras. É o pai que apresenta o mundo à criança, que brinca com ela...
Quando a criança vai crescendo o pai "mostra-lhe" que existem outras relações, como a relação do pai e da mãe. Num dado momento do desenvolvimento assistimos a uma preferência das meninas pelos pais e dos meninos pelas mães. Com os pais aprendem que o pai e a mãe têm uma relação (relação de casal) na qual a criança não entra, e que tem que esperar para ser crescida para poder ter uma relação parecida.
É também o pai que serve de modelo, sobretudo para os meninos. Os rapazes vêm o pai como o seu herói, querem fazer as tarefas como ele. No brincar imitam o pai (arranjar carros, a construir) e assim desenvolvem uma identidade masculina. O pai é visto como um herói que a criança admira, por isso é comum ouvir: "O que queres ser quando fores grande? Quero ser como o meu pai!". Os meninos procuram o pai para fazer tarefas com eles, por isso muitas vezes querem ajudar a lavar o carro, a arranjar alguma coisa em casa, e ficam muito satisfeitos quando o pai os elogia, e os deixa participar nas tarefas que estão a realizar. No fundo, sentem que são importantes e que o pai gosta de estar com eles.
O pai é também importante para a criança porque põe regras e concorda com a mãe no momento em que se diz Não. A criança aprende que pai e mãe estão juntos, e não pode ir pedir à mãe e se esta diz que não ir de imediato ao pai.
O pai é tão importante e necessário como a mãe, uma criança que cresça sem o pai e sem uma figura de referência masculina tem mais dificuldades em lidar com o mundo. Também se ouve a mãe ou outros a dizerem mal do pai à sua frente fica muito triste (sente-se desiludida, como se o seu herói afinal não fosse herói nenhum). 
Para terminar, deixo-vos uma frase 
Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai.” Sigmund Freud

Eunice Cruz - Psicóloga


sábado, 19 de fevereiro de 2011

Encontro: "Crescer: A Importância dos Valores e Limites"

No passado dia 12 de Fevereiro tivemos mais um encontro na nossa escola, desta vez dedicado ao tema "Crescer: A Importância dos Valores e Limites". Foi um momento de partilha de experiências, debate de opiniões e reflexão em conjunto onde todos aqueles que participaram deram o seu contributo, tornando o encontro mais rico. Partilho aqui, em algumas linhas, com os pais que não tiveram oportunidade de participar neste encontro algumas das ideias a que chegamos.
Em conjunto vimos que não é fácil ser mãe ou pai, e que educar uma criança é muito mais do que cuidar. Percebemos que apesar de não existirem "fórmulas mágicas" no que respeita à educação, existem pilares, bases para a promoção de um crescimento saudável e harmonioso: o Amor, os Valores e os Limites.
Vimos e redescobrimos que a família, nomeadamente os pais e as figuras mais importantes para a criança, são os seus modelos, que a criança imita os pais, e imita sobretudo o seu comportamento, no melhor e no pior (quantas vezes não está o armário desarrumado porque a criança quer fazer como a mãe e vestir-se como ela, ou fazer a barba como o pai?).
Através da partilha e reflexão percebemos que os valores transmitem-se no dia-a-dia, em pequenos momentos mas com grandes aprendizagens, sobretudo por observação do comportamento dos pais, e também em diálogo (no contar histórias, ver filmes, nas situações que acontecem no dia a dia...).
Quanto aos limites, chegamos à conclusão que dizer "Não" é dizer "Eu gosto de ti", e que os limites são muito importantes para que a criança se organize consigo mesma, se adapte ao mundo, se relacione com os outros. Vimos que o "Não" tem que ser dito com segurança, sem medo, e ainda descobrimos que as crianças "nos pedem" limites, pedem que as ajudemos a organizar num mundo que para elas é novo e que a cada momento estão a descobrir.
Descobrimos em conjunto que todas as crianças conseguem mudar, o que é preciso é não desistirmos delas e acreditarmos que nós também conseguimos mudar a situação. Percebemos que pedir ajuda não significa sermos maus pais, pelo contrário, mostra que continuamos a tentar, não desistimos e queremos encontrar mais formas de ajudar a criança.
Deixo uma frase que resume bem o nosso encontro e tudo aquilo que fomos conversando ao longo do encontro:
"É preciso educar no respeito e afecto, transmitir valores, falar com as crianças, ouvi-las, ensiná-las a aceitar as frustrações, impor limites e exercer autoridade sem medo. É preciso recorrer a ajuda especializada sem vergonha." - Javier Urra (2010) 

Para terminar, quero agradecer a todos os pais que participaram e tornaram o encontro ainda mais rico e precioso, através da  partilha, comentários e opiniões. Muito Obrigada!
Eunice Cruz  - Psicóloga