terça-feira, 22 de março de 2011

Educar para os Valores: a Justiça, Verdade e Honestidade

Este ano letivo dedicamos o Projeto Educativo ao tema "Educar para os Valores e Cidadania".Todos os meses são desenvolvidos e trabalhados com as nossas crianças valores fundamentais para a sua convivência e adaptação pessoal e social. Apesar de focarmos valores específicos cada mês, todos eles vão sendo abordados no dia-a-dia porque é impossível separar uns valores do outros.
A transmissão de valores é um dos pilares da educação  porque são os valores que nos permitem viver em sociedade. Sem valores não conseguimos conviver com o outro, porque o outro deixa de existir, no fundo "A nossa liberdade acaba quando começa a liberdade do outro". Também temos presente que os pais são os modelos da criança,  que a criança imita os pais, a transmissão de valores "dá-se" pelos atos que os pais têm e que as crianças observam. Por trás das nossas ações e dos nossos pensamentos encontram-se os valores pelos quais nos guiamos.
Mês a mês vamos  reflectir sobre os valores que abordamos, e dar sugestões para trabalhar estes valores em casa. Este mês os valores que estamos a trabalhar são a Justiça, a Verdade e a Honestidade. Hoje em dia cada vez mais somos confrontados com notícias que mostram a ausência destes valores, basta abrir um jornal (fraudes, processos judiciais que acabam arquivados...).
A verdade e honestidade são valores essenciais na convivência com o outro. A criança deve perceber que não se deve mentir e que os proveitos que tem da mentira não lhe são "úteis". No entanto, é também importante que a criança perceba que dizer a verdade é limitado às pessoas a quem o diz (não deve conversar com estranhos, muito menos contar  aspetos da sua vida pessoal).Torna-se assim importante ajudar a criança a conhecer quem são as pessoas de confiança.
A honestidade permite a adaptação, dado que o outro confia em nós porque sabe que o que lhe estamos a dizer é de facto o que pensamos. Quando não somos honestos dá-se uma quebra na confiança, e numa próxima vez instala-se a dúvida acerca da veracidade do que estamos a dizer. No entanto, a honestidade pede equilíbrio (não podemos dizer na realidade todos os pensamentos que nos vêm à cabeça, sob pena de sermos demasiado intrusivos com o outro ou mesmo danificar as relações que temos com o outro). Ser honesto implica integridade e cautela (pensar no outro).
Sem Justiça é muito difícil aceder aos outros valores. Ser justo implica prescindir (muitas vezes) dos nossos desejos em prol de um bem  justo e maior. Ser justo não implica ser igual, mas ver o outro como diferente e decidir perante a diferença.
Como explicamos à criança o que é a justiça, o que é ser justo? Ser justo implica deixar de ver apenas o seu interesse, olhar para o interesse do outro e tomar uma decisão exata. Os momentos de brincar com os amigos são bons para ajudar a criança a perceber o ponto de vista do outro (muito pequenas têm dificuldade em se descentrar de si próprias), no entanto, se os pais actuam como mediadores no conflito a criança vai-se habituando a uma linguagem onde o outro também está presente.
O mundo muitas vezes não é justo, e a criança vai-se defrontar vezes sem conta com situações de injustiça. Importa ajudar a criança a tolerar essa frustração, e também a perceber que quando  ela é injusta pedir desculpa não é suficiente, tem que se reparar (sempre que puder) a injustiça.
Em casa os momentos do dia-a-dia são ideais para ajudar a criança a perceber o que implica dizer a verdade, ser honesta e justa.
Os pais podem selecionar notícias (de revistas, jornais) - hoje em dia em qualquer jornal diário existem notícias que remetem para a mentira, a justiça... - e conversar com a criança sobre o assunto: perguntar-lhe o que ela pensa, dar-lhe exemplos da sua vida e perguntar-lhe se gostava que lhe fizessem isso, como se sentiria, como é que o outro iria ficar. Adaptar a notícia à fase de desenvolvimento da criança. Não é necessário ler tal e qual como está escrito, pode-se adaptar e mesmo moldar a noticia. Os desenhos animados também são uma excelente forma de mostrar e conversar com a criança sobre estes valores.
As relações (com a família, com os amigos) são também uma boa ferramenta para ajudar a criança. Por exemplo, num conflito entre amigos os pais podem servir de mediadores do conflito e ajudar a criança a perceber-se a si própria (ouvir a sua versão), a ouvir o outro (ouvir a versão do outro) e a pensar sobre o que é mais justo.
As histórias são também de grande utilidade para ajudar a criança a reflectir sobre os valores. Os pais mais criativos podem inventar as suas próprias histórias, de acordo com o que querem reflectir com a criança. Existem vários contos onde estes valores estão implícitos, deixo-vos como sugestões "O Rei vai Nú", "O Pedro e o Lobo", "O lenhador e o Deus Hermes," e  "O Avarento".
 Abordar os valores é um trabalho de cooperação entre casa e a escola. Estas reflexões estão abertas a todos os pais e por isso comentários, opiniões e sugestões sobre como abordam estas questões com os vossos filhos são muito bem-vindas. Para o próximo mês vamo-nos debruçar sobre a Liberdade.

Eunice Cruz - Psicóloga


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